na horta e na cozinha
O espaço da fazenda é importante na construção das relações dentro do
grupo doméstico De um modo geral, as atividades no universo
camponês se organizam em dois espaços: na roça
e na casa, o que define a
centralidade dos papéis do marido e da esposa que são referência para os papéis
femininos e masculinos. No contexto etnográfico ao qual me refiro, a relação
entre mãe e filha também é construída em torno da casa, da horta e da cozinha,
bem como a relação do filho com o pai está baseada nos afazeres da roça, na
manutenção das ferramentas e no cuidado com as vacas. Nesse sentido, cabe às
mulheres o preparo dos alimentos, o cuidado com as crianças e com a casa. Além
disso, é de sua competência o trato da criação de aves e suínos e, sobretudo, a
horticultura.
As roças que visitei são de mandioca, milho, cana, feijão, arroz, pimenta
e café. Nem sempre há espaço na fazenda para o plantio de roça de feijão e
arroz, principalmente quando há criação de gado, situação em que é prioritário
o cultivo da cana e do milho para forragem. Nesses casos, é comum plantar
feijão e arroz em regime de meação e
/ ou arrendar pasto para o gado, o que vai depender da área da fazenda e do
cálculo operado pelo grupo doméstico. As decisões em relação a roça são da competência
do homem, marido, pai e proprietário da pequena fazenda. O cultivo na roça
depende sobremaneira das relações que ele estabelece com parentes e vizinhos e
a organização deles em “comunidades rurais”, que além de trabalharem uns para
os outros em regime de mutirão, juntos, demandam à prefeitura insumos e
máquinas para o preparo do solo. Nos dois povoados em que estive, ocorre
mensalmente reunião da comunidade para deliberar sobre a escala do uso do trator
e máquinas, divisão de sementes, de adubos, organização de festas, manutenção
da capela e do salão de reuniões do arraial.
Observo, portanto, que há uma distinção entre “plantar roça” e “plantar
hortaliça” nesse contexto. A roça (mandioca, cana, milho, café, arroz e feijão)
é uma atribuição dos homens e está, de modo geral, voltada para a produção de
excedentes. Além da porção para o consumo da família, é preciso produzir para a
manutenção da criação, bem como é desejável uma porção para comercializar. A
horta é exclusivamente voltada para a casa, para a alimentação do grupo doméstico. Horta e cozinha,
portanto, são espaços físico e simbolicamente contíguos cujos saberes e práticas são
controlados majoritariamente pelas mulheres.**
**trecho do texto "Na horta e na cozinha: práticas femininas e saberes vegetais no universo camponês." Trabalho de conclusão do curso MNA-818 (Antropologia das emoções): Antropologia da Natureza: o humano e o mundo vegetal. PPGAS/MN/UFRJ. Professores: Luiz Fernando D. Duarte e Ana Maria L. Daou (IGEOC/UFRJ). 2009/1.
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