domingo, 25 de janeiro de 2015

na horta e na cozinha

 na horta e na cozinha 
O espaço da fazenda é importante na construção das relações dentro do grupo doméstico  De um modo geral, as atividades no universo camponês se organizam em dois espaços: na roça e na casa, o que define a centralidade dos papéis do marido e da esposa que são referência para os papéis femininos e masculinos. No contexto etnográfico ao qual me refiro, a relação entre mãe e filha também é construída em torno da casa, da horta e da cozinha, bem como a relação do filho com o pai está baseada nos afazeres da roça, na manutenção das ferramentas e no cuidado com as vacas. Nesse sentido, cabe às mulheres o preparo dos alimentos, o cuidado com as crianças e com a casa. Além disso, é de sua competência o trato da criação de aves e suínos e, sobretudo, a horticultura.
As roças que visitei são de mandioca, milho, cana, feijão, arroz, pimenta e café. Nem sempre há espaço na fazenda para o plantio de roça de feijão e arroz, principalmente quando há criação de gado, situação em que é prioritário o cultivo da cana e do milho para forragem. Nesses casos, é comum plantar feijão e arroz em regime de meação e / ou arrendar pasto para o gado, o que vai depender da área da fazenda e do cálculo operado pelo grupo doméstico. As decisões em relação a roça são da competência do homem, marido, pai e proprietário da pequena fazenda. O cultivo na roça depende sobremaneira das relações que ele estabelece com parentes e vizinhos e a organização deles em “comunidades rurais”, que além de trabalharem uns para os outros em regime de mutirão, juntos, demandam à prefeitura insumos e máquinas para o preparo do solo. Nos dois povoados em que estive, ocorre mensalmente reunião da comunidade para deliberar sobre a escala do uso do trator e máquinas, divisão de sementes, de adubos, organização de festas, manutenção da capela e do salão de reuniões do arraial.
Observo, portanto, que há uma distinção entre “plantar roça” e “plantar hortaliça” nesse contexto. A roça (mandioca, cana, milho, café, arroz e feijão) é uma atribuição dos homens e está, de modo geral, voltada para a produção de excedentes. Além da porção para o consumo da família, é preciso produzir para a manutenção da criação, bem como é desejável uma porção para comercializar. A horta é exclusivamente voltada para a casa, para a alimentação do grupo doméstico. Horta e cozinha, portanto, são espaços físico e simbolicamente contíguos cujos saberes e práticas são controlados majoritariamente pelas mulheres.**
**trecho do texto "Na horta e na cozinha: práticas femininas e saberes vegetais no universo camponês."  Trabalho de conclusão do curso MNA-818 (Antropologia das emoções): Antropologia da Natureza: o humano e o mundo vegetal. PPGAS/MN/UFRJ. Professores: Luiz Fernando D. Duarte e Ana Maria L. Daou (IGEOC/UFRJ). 2009/1.  

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