sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

manjericão

Lembrei de um episódio que ocorreu comigo durante minha estada na casa de uma das famílias que me recebeu para o trabalho de campo. Nessa estada, como já disse antes, participei diretamente do trabalho na cozinha. Certo dia, comentei com Dona Sebastiana sobre um dos pratos que havia aprendido a preparar recentemente: panquecas recheadas de carne moída guarnecida por molho de tomate. “Para experimentar uma comida diferente”, Dona Sebastiana pediu-me que no almoço do dia seguinte eu o preparasse para toda a família.

Os ingredientes - a carne moída, farinha de trigo, leite, ovos, queijo, tomates, cebola e alho - já faziam parte do cardápio diário da família e estavam disponíveis na dispensa da casa. Notei também que em sua horta, havia muitos pés de manjericão e como costumo utilizá-lo nos pratos a base de massa e tomate, resolvi espalhar suas folhas sobre as panquecas antes de lavá-las ao forno. Na hora em que sentamos para almoçar, a filha de Dona Sebastiana ao colocar na boca a primeira garfada, engasgou e saiu para o terreiro para cuspir a comida. Seu pai perguntou o quê eram aquelas folhas verdes que eu havia colocado no prato. Dona Sebastiana parecia tentar saborear a comida, mas me perguntou porque havia colocado “remédio” nas panquecas. Sua filha retornou à mesa e retirou as panquecas de seu prato, pediu desculpas por não ter gostado e disse-me que nunca havia visto  “essa erva”  ser usada  na comida e que era usada apenas para fazer ungüentos na extração de pus em inflamações subcutâneas. Por fim, pedi mil desculpas e expliquei que o uso que conheço e faço é o de aromatizar a comida preparada à base de tomate. Para consertar o equívoco, pedi licença, levei o tabuleiro para a beira do fogão, retirei todas as folhas de manjericão e preparei outro molho de tomate, derramei-o em cima das panquecas e recoloquei-as no forno por alguns minutos. Voltei com as panquecas para a mesa, mas a filha e o marido de Dona Sebastiana não quiseram mais comê-las, experimentaram e lamentaram o forte gosto do “remédio” que ainda permanecia na comida. 

Um comentário:

  1. Patrícia! Parabéns pelo blog. E que história boa. A mesma reação que vi no sertão da Bahia, onde manjericão é remédio ou erva de banho de criança.
    Um abraço,n

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