terça-feira, 12 de maio de 2015

e cada região elegeu o seu cereal preferido



E... cada região do mundo elegeu seu cereal preferido: o trigo se difundiu na região mediterrânea, o sorgo no continente africano, o arroz na Ásia, o milho na América. Em torno dessas plantas organizou-se toda a vida daquelas sociedades: relações econômicas, formas de poder político, imaginário cultural, rituais religiosos (...). A própria invenção da cidade, percebida pelos antigos como lugar por excelência da evolução civil, não seria possível sem o desenvolvimento da agricultura. Nesse processo, as sociedades não se adequaram simplesmente às condições impostas pelo ambiente. Modificaram-nas de modo profundo, introduzindo culturas fora das áreas originárias e transformando a paisagem em função disso. É nesse contexto cultural que as primeiras sociedades agrícolas elaboram a ideia de um “homem civil”, aquele que constrói artificialmente sua comida. Uma comida que não existe na natureza e que serve para distinguir a identidade das bestas da identidade dos homens. O pão, na região mediterrânea, área do trigo, representa essa distinção. Somente os homens sabem fazer o pão, tendo elaborado uma sofisticada tecnologia que prevê uma série de operações complexas fruto de longas experiências e reflexões. O pão representa a conquista da “civilização”. (...) Papéis simbólicos idênticos revestem o vinho e a cerveja, bebidas fermentadas que, como o pão, não existem na natureza, mas representam o resultado de um saber... e o homem aprendeu a dominar os processos naturais, utilizando-os em benefício próprio. (Massimo Montanari)