O antropólogo Claude Lévi-Strauss
disse que o espaço da cozinha é o cenário privilegiado de reprodução das
classificações culturais de uma sociedade. Para ele, comer e cozinhar é uma experiência
humanizadora. Ele vai dizer que, assim como não existe sociedade humana sem
língua falada, não existe sociedade que, de um modo ou de outro, não processa
seu alimento. A cozinha para Lévi-Strauss, do mesmo modo que a linguagem,
revela-se como eixo central da integração entre natureza e cultura. Ele mostra
que o acesso aos alimentos e sua incorporação, ingestão são atos sempre mediados pelo
sistema simbólico no qual estão inseridos. Para ele, a ordem alimentar
constitui-se em um dos níveis onde se exprime simbolicamente a representação do
mundo.
Há, por exemplo, estudos antropológicos sobre o tema do parentesco que falam de relação de alteridade consubstanciada, que é uma percepção reveladora da força da
comida na vida social. Comermos da mesma comida é como sermos feitos da mesma
substância, o que pode equivaler ao sentido tão forte quanto ao que concedemos
a consanguinidade. Esses estudos mostram que a comida nos conecta, cria
relação, vínculos.
Saber quais são os alimentos comestíveis, definir a forma de prepará-los, de combiná-los e decidir com quem e como partilhar são distinções de ordenação social e cosmológica. Falar de comida e de cozinha não é apenas falar de nutrição, prazeres gustativos, mas basicamente falar de princípios simbólicos e de alteridade.
Saber quais são os alimentos comestíveis, definir a forma de prepará-los, de combiná-los e decidir com quem e como partilhar são distinções de ordenação social e cosmológica. Falar de comida e de cozinha não é apenas falar de nutrição, prazeres gustativos, mas basicamente falar de princípios simbólicos e de alteridade.
Patrícia Delgado Mafra