terça-feira, 28 de abril de 2015

Mandioca Manioc Maniva

Tenho pensado no potencial do complexo indígena da mandioca sobre o complexo cerealífero europeu do trigo... aí lembrei que estamos vivendo a celebração dos alimentos "sem trigo" estrelada pela mandioca na figura da tapioca... o mito de origem da mandioca a revela como símbolo da mistura do branco português com o indígena. Na história da culinária brasileira, a mandioca é central quando o assunto é adaptação dos colonizadores, e sobretudo das cozinheiras, ao chamado “pão dos trópicos”. Gilberto Freyre fala disso.  As “casas de farinha” e toda uma etnografia existente sobre o cultivo e consumo da mandioca revelam que se trata de potente mediador e agregador de pessoas. “mexer com polvilho”, “fazer farinha”  para mulheres camponesas é uma operação de conexão com outras mulheres e  uma forma de criar “fartura”, abundância... processando a mandioca. Conversando com as mulheres aprendi que um roçadinho de mandioca é pura fartura,  a garantia de alimento o ano todo... a mandioca pode ficar debaixo da terra até dois anos depois de já estar pronta para o arranque, o que facilita na questão do armazenamento desse alimento... e então onde tem mandioca tem a farinha, tem o polvilho, tem um bolo doce, tem tapioca, pão de queijo, beiju... é quase uma bênção esse alimento...

Abaixo cito o mito da mandioca que eu encontrei nesse artigo aqui:
A Palavra mandioca do verbal ao verbo-visual . Autora: Beth Brait.  Revista BAKHTINIANA, São Paulo, v. 1, n. 1, p.142-160, 1o sem. 2009.
“MANI-OCA
(Casa de Mani)
Em tempos idos, apareceu grávida a filha de um chefe selvagem, que residia nas imediações do lugar em que está hoje a cidade de Santarém. O chefe quis punir no autor da desonra de sua filha, a ofensa que sofrera seu orgulho e, para saber quem ele era, empregou debalde rogos, ameaças e por fim castigos severos. Tanto diante dos rogos como diante dos castigos a moça permaneceu inflexível, dizendo que nunca tinha tido relação com homem algum. O chefe tinha deliberado matá-la, quando lhe apareceu em sonho um homem branco, que lhe disse que não matasse a moça, porque ela efetivamente era inocente, e não tinha tido relação com homem. Passados os nove meses, ela deu à luz uma menina lindíssima e branca, causando este último fato a surpresa não só da tribo como das nações vizinhas, que vieram visitar a criança, para ver aquela nova e desconhecida raça. A criança, que teve o nome de Mani e que andava e falava precocemente, morreu ao cabo de um ano, sem ter adoecido e sem dar mostras de dor. Foi enterrada dentro da própria casa, onde era descoberta diariamente, sendo também diariamente regada a sua sepultura, segundo o costume do povo. Ao cabo de algum tempo, brotou da cova uma planta que, por ser inteiramente desconhecida, deixaram de arrancar. Cresceu, floresceu e deu frutos. A terra afinal fendeu-se; cavaram-na e julgaram reconhecer no fruto que encontraram o corpo de Mani. Comeram-no e assim aprenderam a usar a mandioca.[O fruto recebeu o nome de Mani-oca, que quer dizer: casa ou transformação de Mani, nome que conservamos corrompido na palavra mandioca, mas que os franceses conservam ainda sem corrupção] (COUTO DE MAGALHÃES, 1935, p. 167-168).”

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