quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

comida, corpo e alteridade (notas de leitura)

Para a cosmologia ameríndia diferentes corpos produzem diferentes perspectivas.
No caso dos kaxinauá (Pano), desde a concepção do indivíduo até a vida adulta ocorre um processo de “fabricação” do corpo que prepara o sujeito para a sua socialização e aprendizados. (Cecília McCallum).

Constata-se, a partir de diversas etnografias de outros povos ameríndios, que o corpo é o articulador de significados sociais e de cosmologias e é com ele que se elabora uma perspectiva do mundo e de si.

Cecília MacCllum está chamando a atenção da centralidade do corpo na cosmologia dos kaxinaua, e nas discussões sobre parentesco, xamanismo, guerra e canibalismo. Na constituição da pessoa, o corpo é fundamental e é uma entidade ontológica que registra as experiências vividas individual ou coletivamente...  

Há uma fabricação do corpo realizada por uma combinação de intervenções constantes de substâncias que o conectam ao mundo: fluídos corporais, banhos e ingestão de ervas e soluções, comidas, fumaça do tabaco, óleos, tintas vegetais... outro tipo de intervenção no corpo seria a partir dos sentidos auditivos e olfativos.

Ela destaca a centralidade da alimentação, e também da sexualidade, nesse processo de elaboração do corpo/pessoa.

Não é apenas a ingestão de alimentos, mas o compartilhar constante da mesma comida é que faz o corpo, a pessoa e cria uma identificação que reforça a relação de consanguinidade, cria a afinidade e marca a alteridade (com quem não se come junto, por exemplo). O mesmo ocorre com a sexualidade, em que a troca de substâncias reforça o gradiente de afinidade, marca a alteridade (com quem não se pode casar) e cria consanguinidade com a concepção (procriação)...





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