Para a
cosmologia ameríndia diferentes corpos produzem diferentes perspectivas.
No caso dos
kaxinauá (Pano), desde a concepção do indivíduo até
a vida adulta ocorre um processo de “fabricação” do corpo que prepara o sujeito
para a sua socialização e aprendizados. (Cecília McCallum).
Constata-se, a
partir de diversas etnografias de outros povos ameríndios, que o corpo é o articulador
de significados sociais e de cosmologias e é com ele que se elabora uma
perspectiva do mundo e de si.
Cecília MacCllum
está chamando a atenção da centralidade do corpo na cosmologia dos kaxinaua, e
nas discussões sobre parentesco, xamanismo, guerra e canibalismo. Na
constituição da pessoa, o corpo é fundamental e é uma entidade ontológica que
registra as experiências vividas individual ou coletivamente...
Há uma fabricação do corpo realizada por uma combinação de
intervenções constantes de substâncias que o conectam ao mundo: fluídos
corporais, banhos e ingestão de ervas e soluções, comidas, fumaça do tabaco,
óleos, tintas vegetais... outro tipo de intervenção no corpo seria a partir dos
sentidos auditivos e olfativos.
Ela destaca a
centralidade da alimentação, e também da sexualidade, nesse processo de elaboração do
corpo/pessoa.
Não é apenas a
ingestão de alimentos, mas o compartilhar constante da mesma comida é que faz
o corpo, a pessoa e cria uma identificação que reforça a relação de consanguinidade,
cria a afinidade e marca a alteridade (com quem não se come junto, por exemplo).
O mesmo ocorre com a sexualidade, em que a troca de substâncias reforça o
gradiente de afinidade, marca a alteridade (com quem não se pode casar) e cria consanguinidade
com a concepção (procriação)...
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